O planejamento de um jardim, na visão do artista e paisagista Burle Marx, é uma das mais complexas formas de arte, pois exige a compreensão de outras artes e o forte sentimento de aprender com a maior de todas as artes, a Natureza.
E nesta arte de planejar um jardim é preciso selecionar as espécies que ora se contrastam, ora se complementam, assim como na pintura, escultura e na música, formando uma sinfonia.
Entretanto, para que esta sinfonia fique harmoniosa a seleção de espécies deve levar em conta o fator natural mais importante no traçado de um jardim, na visão de Burle Marx: a Luz.
Ao tomar partido da "luz" o paisagista pode obter resultados surpreendentes de luz e sombra, pois assim como o movimento do sol traz resultados diferentes do amanhecer ao entardecer, o crescimento das espécies gera composições cromáticas diferentes no decorrer do tempo.
Faz-se necessário também observar a beleza nas relações cromáticas do jardim durante as quatro estações do ano.
“Os materiais de um jardim não variam – árvores, arbustos, ervas, água, pedras, tijolos. É a proporção entre esses elementos, sua relação uns com os outros, que criam as diferenças de estilo. ” Roberto Burle Marx
O importante é compreender o ambiente natural no qual o jardim paisagístico será implantado. O estudo da paisagem do local e suas peculiaridades irão revelar as características intrínsecas das espécies que crescem na região.
Por isso, querer usar espécies com cores muito diferenciadas pode tornar difícil a adaptação das mesmas no local, porque nem todas se adaptam a qualquer paisagem. Elas se desenvolvem a pleno vigor quando aliadas ao seu próprio grupo ecológico.
Então na arte do planejamento de jardins, cabe ao paisagista refletir a paisagem circundante, plantando espécies que crescem na região, as quais são ecologicamente compatíveis e já estão adaptadas ao clima e ao solo do lugar.
Assim, nestes jardins de natureza organizada, o artista Burle Marx pôde revelar a beleza das cores e das formas, das mais exuberantes espécies encontradas no Brasil, trazendo para a paisagem a harmonia e o ritmo com seus volumes ordenados.
O paisagista percebia cada planta como um ser vivo único, com necessidades e preferências próprias, as quais vistas sob diversos ângulos transformavam-se com o sopro dos ventos, com o brilho do sol ou mesmo com o cair da chuva.
Em seus projetos sempre havia um elo de cores, texturas, formas ou até mesmo perfumes.
Nas palavras de José Tabacow, arquiteto-colaborador do escritório de Burle Marx até 1982:
“(...) o conteúdo da obra de Burle Marx vai muito além da beleza física, pois suas atividades de paisagista e de conservacionista se confundem, sem fronteiras definidas, a planta sendo, ao mesmo tempo, seu material de composição e um símbolo de amor à vida."
Para Burle Marx o jardim, como forma de arte, deve ser coeso, completo em si mesmo, contendo ambientes repousantes que encantem e tragam bem-estar.
Nesta arte viva em constante transformação, onde suas formas crescem e suas cores variam com o passar do tempo, todas as partes devem se relacionar em perfeita harmonia.
Hoje, muitos paisagistas são desafiados em seus projetos a realizar inúmeras atividades: criar um jardim de destaque; um jardim que propicie refúgio; elaborar margens de estradas, trevos e rotatórias; organizar parques, praças, alamedas, jardins botânicos e até hortos.
E, nesta complexidade de atividades, o paisagista tem um papel importante, que é sempre manter a função estética em primeiro plano. Seja qual for a função social ali desenvolvida, a beleza do jardim é essencial.
Na arte de planejar um jardim, o paisagista tem a oportunidade de transformar o espaço aberto como um dos elementos vitais para a requalificação de nossas cidades.
Neste sentido, a paisagem da cidade tanto ecológica quanto cultural, à medida que integra os sistemas naturais e os construídos proporciona qualidade de vida às pessoas.
Principais Obras Paisagísticas de Burle Marx e Equipe:
Projetos de Redesenho do Espaço Urbano e Calçadões:
Calçada de Copacabana, Rio de Janeiro – RJ, 1970;
Largo da Carioca, Rio de Janeiro – RJ,1981.
Projetos de Parques e Praças:
Praça Euclides da Cunha, Recife – PE, 1935;
Parque Araxá, 1973;- Parque del Este, Caracas - Venezuela, 1956;
Parque do Flamengo, Rio de Janeiro – RJ, 1957;
Praça Salgado Filho, Recife - PE, década 1960 (restaurada em 2004);
Praça Dois Irmãos, Recife - PE, década 1960 (hoje Faria Neves, restaurada 2006);
Praça-monumento Costa e Silva, Teresina – PI, 1972;
Parque Ecológico do Tietê, São Paulo –SP, 1976 (em parceria com Ruy Ohtake);
Parque da Baía Sul, Florianópolis – SC, 1977;
Parque Moça Bonita, Rio de Janeiro – RJ, 1979;
Parque Municipal das Mangabeiras, Belo Horizonte – MG, 1982;
Praça Almirante Júlio de Noronha, Rio de Janeiro – RJ, 1991;
Parque Kuala Lumpur City Center (KLCC), Kuala Lumpur – Malásia, 1996.
Projetos de Requalificação Visual da Paisagem Urbana:
Lagoa Rodrigo de Freitas, 1975;
Vias de acesso ao Aeroporto Internacional do Galeão, Rio de Janeiro – RJ, 1978;
Entorno do Acesso ao Túnel Rebouças, Rio de Janeiro – RJ, 1981.
Projeto Paisagístico como Marca empresarial e Institucional:
Terraço-Jardim do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro – RJ, 1938;
Hospital Sul América, Rio de Janeiro – RJ, 1957;
Ministério das Forças Armadas, Brasília – DF, década 1970 (conhecida como Praça Triangular);
Banco Safra – Agência Bela Cintra, São Paulo – SP, 1982;
Edifício Empresarial Rio, Rio de Janeiro – RJ,1982.
Projeto Paisagístico Residencial:
Fazenda Marambaia, Petrópolis – RJ, 1947;
Sítio Antônio da Bica,1948;- Residência Olívio Gomes, São José dos Campos – SP, 1950;
Residência Edmundo Cavanellas, Rio de Janeiro – RJ, 1954;
Fazenda Vargem Grande, Areias – SP, 1979/1992.
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